VICENTE DE MELLO | MONOLUX

 
 
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MONOLUX

VICENTE DE MELLO

 
 

MONOLUX - Vicente de Mello

 

A Galeria Eduardo Fernandes apresenta a exposição “Monolux”, com 10 obras inéditas do fotógrafo Vicente de Mello, na técnica do fotogramas “ que abandonam a materialidade do negativo, para lidar com a materialidade da luz, e a experimentação é a força orientadora, a âncora na imaterialidade da imagem”, diz. “O princípio do fotograma é o avesso do que está por cima do papel fotográfico, é o nexo entre a materialidade dos objetos e seu volume nulo, em fundo-abismo”. afirma Vicente.

Vicente de Mello explica que diante da “desconcertante reprodutibilidade na prática social, onde a imagem se tornou um fluxo permanente que deságua nas redes sociais em uma profusão nunca antes vista”, buscou a natureza primeira da fotografia: os fotogramas. Os fotogramas “são fotografias sem câmera e sem negativo, uma antítese do impalpável e imensurável universo de pixels”. “Agradava-me a ideia de pensar que tanto a luz quanto os objetos exerciam uma ação tátil de clara composição ambígua sobre o papel, resultando em um fato fotográfico de força enigmática”, explica. 

Fotógrafo educado a “reconhecer o ato fotográfico como uma ação de foro pessoal, autoral, profissional, da procura da imagem perfeita, singular, carregada de significados implícitos”, Vicente de Mello conta que buscou entender e lidar com esta nova situação, em que a tecnologia “esgarçou no século 21 as fronteiras da captação e da pluralidade de imagens”.

“No meio da constatação desta espetacular hecatombe de imagens, senti que, eu mesmo já estava há anos convivendo com um grande manancial de imagens editadas, conhecidas, exibidas, adquiridas, publicadas, além das arquivadas que nunca chegaram a outros olhos”, conta Vicente de Mello. “Essas imagens formavam o ‘cosmos’ da minha propriedade como autor, ainda a ser descoberto e revisto em múltiplas análises, recortes e inserções”. Ele ressalta que não considera ter esgotado sua percepção, mas que precisava “retornar a um pensamento em que pudesse construir, dominar, e que ele fosse único, sem a possibilidade de estar, enquanto original, em vários lugares”. “Um novo estatuto da fotografia, sem freio”, afirma.

Vicente de Mello reconhece que ao reproduzir digitalmente as imagens dos fotogramas, e elas forem lançadas nas redes, “todo mundo terá acesso, enquanto o original não poderá ser duplicado”. “Para conhecer o original será preciso que o olho humano esteja em frente a ele”, diz.

 

  

TELESCÓPIO JAPONÊS

 

O título da exposição, “Monolux”, vem da lembrança de Vicente de Mello do nome de um telescópio japonês de uso amador dos anos 1970, e “pelo fato físico de que, para imprimir os fotogramas, uma única fonte de luz é utilizada: a lâmpada da cabeça do ampliador”.

O artista explica que os materiais utilizados têm uma relação particular entre si: “vieram das minhas coleções de madeira, de itens fotográficos, de coisinhas acumuladas que achei na rua, que comprei no mercado de pulgas, de objetos de uso doméstico e as que criei, exclusivamente, para configurarem como formas reconhecíveis”.

Na impressão dos objetos, dentro do retângulo de 50cm x 60cm, “todas as modulações, tentativas e acidentes foram às cegas”, conta ele. “O laboratório precisa estar em completa escuridão e somente uma luz vermelha (que não revela o papel virgem) permeia o ambiente para guiar a colocação dos objetos. O que vejo nos fotogramas é que a forma impressa não respeita a gravidade, tudo flutua e parece entrar em orbita, em um infinito impalpável. Não estou reinventando a pólvora”.

 Vicente de Mello associa esta volta ao laboratório ao fato histórico conhecido de quando José Oiticica Filho, nos anos 1950, rompeu com os procedimentos clássicos da fotografia e se aprofundou na criação de séries, em que pintava sobre ampliações, com sobreposições de materiais diretos no papel e depois refotografados (“Formas”), fotografias convencionais que sofriam alteração na própria cópia (“Derivações”), e esses dois processos somados a fotogramas e solarização “(Recriações”).

“José Oiticica Filho deixou de lado, naquele momento, a problematização do que é fotografia, arte e reprodutibilidade, tema que até hoje é discutido ad nauseam,e, com as fotografias pelos meios digitais, as certezas estarão mais pulverizadas”, avalia Vicente de Mello.