GUSTAVO SPERIDIÃO E ANDREI MULLER | UTÓPICA - CIRCO DOS SONHOS


O Coletivo Gráfica Utópica  ocupa a Galeria Eduardo H Fernandes por um mês e meio a partir do dia  17 de junho.  Gustavo Speridião e Andrei Muller apresentam 4 fotografias 60x80cm, preto e branco, realizadas entre 2007 e 2008, o  média-metragem O CIRCO DOS SONHOS - 45 minutos/preto e branco/digital/2008. O texto sobre a exposição é assinado por Guilherme Bueno, atual diretor do MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói. 

Andrei Muller e Gustavo Speridião participam este ano do Prêmio Rumos Itaú Cultural, em São Paulo, Brasília, Bahia e Rio de Janeiro. Gustavo participou da coletiva “Nova Arte Nova – Panorama da Arte Contemporânea Brasileira – CCBB –Rio de Janeiro e  São Paulo (2008/2009) e Andrei Muller participou do projeto “ABRE ALAS 5” da Galeria Gentil Carioca (2009)

Ver que o cinema hoje tem a sua grandeza no fato de ser uma soma e também uma síntese de muitas outras artes é um bom ponto de partida para a exposição O Circo Dos Sonhos:
Gustavo Speridião e Andrei Muller criaram um mundo de sombras e lanternas. Estes espetáculos óticos e sonoros utilizam tudo. Fotografia e cinema são suas matrizes assim como o desenho e a gravura. Mas seus trabalhos são híbridos que trabalham com fotografia, cinema, vídeo, intervenções, poesia, literaura, Internet.

O conceito de cineasta, artista ou músico, deve ser aqui inútil ou pelo menos entendido de maneira bastante elástica, já que os trabalhos fílmicos e audiovisuais produzidos por eles rompem com os limites do que se convencionou chamar de cinema, artes visuais ou música.
Estas obras apresentadas aqui dialogam constantemente com as novas técnicas de produção e criação artística, fazendo uso de todos os instrumentos que a tecnologia desenvolveu nos últimos anos e que foram colocados a serviço do fazer artístico.

A câmera-olho, os avançados laboratórios e ilhas de edição, como sonhou a vanguarda russa na década de 20, hoje realmente cabem na palma da mão e não dependem diretamente de um gigantesco aparato industrial, como foi no passado. É possível fazer um verdadeiro cinema independente agora. o avanço tecnológico transformou qualquer câmera e/ou computador em uma máquina cinematográfica. As fotos que integram a exposição fazem parte desta pesquisa poética, desta pesquisa sobre imagens e palavras, sombras e lanternas.
 
“Stúdio Virtual”
Cinco endereços eletrônicos, verdadeiros “cadernos digitais” apresentam na íntegra a pesquisa elaborada sobre imagem e palavras que este dois  artistas têm desenvolvido. Organizados por temas, estes blogs tornam-se um tipo de "studio virtual" onde significados, imagens, ressignificações e poéticas são experimentadas.

http://circodossonhos.blogspot.com/
http://graficautopica.blogspot.com/
http://oqueabre.blogspot.com/
http://oquefecha.blogspot.com/
http://cinestrong.blogspot.com/

O Coletivo Gráfica Utópica + O Circo dos Sonhos surgiu no Rio de Janeiro (RJ), em 2001. É formado por Andrei Müller e Gustavo Speridião que realizam um trabalho que poderia ser chamado de “Bricolagem Multimídia”. Em 2002, participou das coletivas A Mostra Grátis, no Espaço Cultural Sérgio Porto e Zona Franca, na Fundição Progresso, ambas no Rio de Janeiro. Em 2003, em San José, Costa Rica, apresentou trabalho no Museo de Arte y Diseño Contemporâneo, durante a mostra Espacios de la Experimetación II. Em 2006, em Niterói, o grupo participou da coletiva Faixa Seletiva, no Centro Cultural Paschoal Carlos Magno. No ano de 2008, em Curitiba, Paraná, integrou o Projeto 4 Territórios, realizando projeções na fachada do Museu Oscar Niemeyer. Nesse mesmo ano, lançou o filme Circo dos Sonhos, no Instituto de Arte da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Por Guilherme Bueno, atual diretor do MAC – Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Circo dos Sonhos, o maior espetáculo da Terra. A memória do circo, contida no título do filme realizado pelo coletivo Gráfica Utópica é sugestiva. Foi num pavilhão desenhado por Courbet, cuja silhueta lembrava uma lona, que a idéia do artista independente ganha corpo. O circo também foi um dos palcos de origem do entretenimento e, como o cinema, as galerias, vitrines, o cabaré e os entorpecentes, deixou clara a mercantilização e controle técnico das sensações. 
 
Circo dos Sonhos é o repertório de um século erroneamente profetizado por Victor Hugo (seu Leviatã virou guerra submarina, raid aéreo, míssil balístico, bombardeio cirúrgico – pleine mer / pleine ciel): documentário e ficção de uma história plano b do cinema, ele agrega o transe da projeção, sua vocação de dominar o espectador (Dr. Mabuse). Trata-se quase de um filme épico; nele corre o inconsciente coletivo do século XX com seu amálgama de reminiscências de filmes b, cinema experimental, películas pioneiras. Entretanto ele provém de um sujeito que reconhece o fim de Vertov, Ruttmann ou Strand – não se trata mais da exploração de uma cidade-objeto (Leningrado, Berlim, Nova York), mas do globo, feita por um world-based artist. Se Paul Claudel afirmara que o único sentimento sincero do século XIX fora o remorso, talvez aquele do XX tenha sido seu furor por imagens, sua mais problemática e viva materialização do desejo – os fotogramas avançavam em velocidade proporcional a fetichização capitalista do objeto, eles fabricaram o milagre moderno, foram a primeira hipótese secular de coletivizar o delírio, ainda que ao preço de um saco de pipocas frias.
 
Circo dos Sonhos. Não percam (seu sono? Seus sonhos?). Aventura, ação, romance, drama, comédia. Nele desfila a melancolia crepuscular de estranhos e intensos dias, mas também a clareza de se colocar na história. Não se trata da venda de esperanças redentoras na arte à la  New Labour (Ce monde est mort), e sim de defrontar a turbulência do presente. World at War, como indica uma de suas tomadas-legenda, versão pútrida e corroída (e por isso mesmo aguda) da imagem-ideograma de Eisenstein. Guerra dos Mundos, seqüência final de Zabriskie Point.
 
Trilha sonora autoral ready-made. Elenco anônimo. Pantomima. The Jazz Singer. Som: imagem granulada e física. Silenzio. Tudo acaba em samba.

Eduardo Fernandes