JAN SMITH | AUSÊNCIA E ABANDONO


“Jan explora o domínio do ignorado. Suas imagens convidam `a pesquisa porque não se mostram imediatamente; existem no prazer de se esconder e se retirar”.
“Jan utiliza a interação técnica do baixo ISO e exposição para chamar atenção ao desaparecimento da presença de seus cenários e sujeitos: Gunkanjima e Kolmanskop. A linha obvia a ser traçada  é o surgimento destas duas cidades originadas pela mineração como centros ilimitados de economia e sua igualmente rápida queda no esquecimento. Num plano pictórico o trabalho poderia ter sido executado de maneira factual, num estilo jornalístico, mas Jan apresenta imagens conceituais que despertam mais sentimentos do que fatos.

Muitas cidades passam por crescimento acelerado apenas para depois entrar numa crise da qual não sairão. Jan não parece interessar-se por condenar nem libertar as razões pelas quais estes lugares se tornam extintos; pelo contrário, ele apresenta esta desmontagem no contexto da essência pessoal da cidade, e concede aos espaços suas próprias vozes. Uma vez vazios, a patina da auto-identidade surge das estruturas.

O corpo de trabalho de Jan está no espaço daquilo que se esconde de  si  mesmo por  se aproximar de nós. Suas imagens se mostram e ao mesmo tempo se afastam do espectador. O que ele apresenta já está e continua desaparecendo, deixando o espectador com um sutil sabor de tempo, do efêmero e do que resta.  As  imagens de Kolmanskop e Gunkanjima  justapõem presença, Ser e vazio.

Apoiando-se no jogo técnico de luz e tempo, expressado através do uso de ISO baixo e longas exposições, atraí a atenção à presença desaparecida de seus cenários e sujeitos. Ambos estão em movimento, porém em velocidades muito diferentes. As lentes  somente permanecem abertas o suficiente para traçar o movimento de seus sujeitos. Em contraposição, a inércia dos cenários se evidencia pelo retrato instantâneo do rápido avanço da decadência sobre um ambiente contemporâneo.

Desocupação absoluta outorga aos espaços, não somente dilapidação, mas também os cobre com desconhecimento. Uma vez excluídos de ocupação, serão eventualmente despidos de alguma vez serem conhecidos, e cairão no nada. Seus protagonistas--freqüentemente auto-retratos—parecem passar através destes estágios fugazes, mas na realidade são coreografias de movimentos, lentos e bem ensaiados. Nus, são fortes lembranças que a consciência uma vez habitante destes limites, os batizou com nome e definição.

Sua presença, semelhante a um horizonte em retirada, revela um senso de existência mais antigo. Quando desaparecem, Ser é somente evidente através dos vestígios de ausência e abandono. 
 
Graciela Kasep